Posted: 05 Jul 2018
08:24 AM PDT
No
último dia 1º de julho foi realizado o vestibular de meio de ano da
Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo) e hoje analisaremos a
prova de redação deste vestibular, que também contou com 53 questões de
múltipla escolha, cujo fio condutor foi o conceito de resiliência.
Resiliência,
segundo a Física, é, na verdade, um ponto de resiliência de um material que
indica a capacidade máxima de absorção e, consequentemente, de acúmulo de
energia durante uma situação de deformação sem que este material perca sua
capacidade elástica de voltar ao seu formato original sem sofrer uma deformação
definitiva ou até mesmo uma ruptura.
Tal
definição encontra-se no enunciado da primeira questão do referido vestibular,
na seção de perguntas multidisciplinares. Tal enunciado também afirma que, ao
longo dos anos, o termo resiliência ganhou novos significados e esta polissemia (pluralidade
de significados) é abordada ao longo de todo o vestibular, inclusive na prova
de redação.
A
prova de redação do vestibular de meio de ano da Fatec de 2018 é composta por
três textos fontes e tem como tema a seguinte frase comando: “O jeitinho brasileiro é
uma forma de resiliência ou falta de honestidade?“.
Neste
contexto, o primeiro texto da coletânea textual aborda os novos significados que
o conceito de resiliência ganhou com o passar o tempo e que passaram a ser
usados em áreas do conhecimento como a Filosofia e a Psicologia; leia:
Inicialmente,
nos anos 1960 e 1970, a resiliência esteve associada à definição dada pela
Física. No final dos anos 1980, vemos que o termo já estava se ampliando [….] e
passava a se apresentar como a capacidade de ser flexível diante da
adversidade. Nas últimas décadas, resiliência vem sendo apresentada como uma
capacidade de ser flexível ao atribuir novos significados aos fatos e que pode
ser desenvolvida em todo ser humano.
Acesso
em: 09.03.2018. Adaptado.
Neste
sentido, ser resiliente é ter a capacidade de se regenerar depois de um período
difícil na vida e conseguir obter aprendizado na adversidade sem perder a nossa
essência, a nossa personalidade. Assim como na Física, desenvolver a
resiliência é, após uma fase estressante, voltar a sermos o que éramos, talvez
melhores como pessoas, e não nos deixar abater por problemas, obstáculos,
decepções etc.
O segundo
texto da coletânea aborda a definição do “jeitinho brasileiro” da
antropóloga Lívia Barbosa:
[…]
o jeitinho (brasileiro) é sempre uma forma “especial” de se resolver algum
problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma
emergência, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Portanto,
para que uma determinada situação seja considerada jeito, necessita-se de um
acontecimento imprevisto e adverso aos objetivos do indivíduo. Para resolvê-la,
é necessária uma maneira especial, isto é, eficiente e rápida, para tratar do
“problema”.
BARBOSA,
L. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. Rio de
Janeiro. Editora Campus, 1992.
O
“jeitinho brasileiro” não é conhecido no Brasil, mas também em quase todo o
mundo; somos famosos por conta dele, como se isto fosse uma marca do povo
brasileiro, sem exceções.
O terceiro e
último texto da coletânea cita alguns exemplos do que seria, na prática, o
“jeitinho brasileiro”, e debate se seria apenas hábitos irrelevantes ou hábitos
corruptos que devem ser combatidos:
Não
declarar Imposto de Renda, falsificar carteirinha de estudante ou,
simplesmente, furar uma fila. A maior parte da população não considera essas
atitudes erradas e as encara como parte do cotidiano. [….] Mas esses atos,
conhecidos como o famoso “jeitinho brasileiro”, podem ser mais graves do que
parecem e configuram, até mesmo, ato de corrupção. O coordenador em Goiás da
campanha do Ministério Público “O que você tem a ver com a corrupção” observa
que essas atitudes já foram banalizadas e enraizadas culturalmente. Por isso, a
campanha visa mostrar à população que esses pequenos atos, tidos como normais,
também são desvios de conduta e devem ser repensados. “O Brasil ainda não
sedimentou os princípios básicos da honestidade e o conceito de ética varia. É
preciso conscientizar as pessoas de que tudo começa com os pequenos atos e uma
coisa leva a outra”, acredita.
Acesso
em: 10.04.2018. Adaptado
Como
a frase comando do tema é uma pergunta, baseado nesta coletânea textual, o
candidato deve responder se o “jeitinho brasileiro” é uma forma de resiliência ou
falta de honestidade por meio da produção de um texto narrativo ou
dissertativo-argumentativo.
Há
quem diga que já pagamos muitos impostos no Brasil, por isso não declarar
Imposto de Renda ou declarar, mas tentando burlá-lo não seria errado, pois os
políticos nos roubam há anos. Também é comum o discurso de que os eventos
culturais no Brasil (cinema, teatro, exposição, shows etc.)
são muito caros e que as empresas ganham muito com isso e por isso é constante
a falsificação de carteirinhas de estudante.
Neste
sentido, para estas pessoas, o “jeitinho brasileiro” seria sim uma forma de
resiliência à verdadeira corrupção, dos altos escalões. Já para outras pessoas,
tais exemplos não deixam de ser corrupção e, assim, são exemplos práticos de
falta de honestidade.
Nesta prova de redação, como há uma
pergunta clara, ela deve ser respondida. Desta maneira, o candidato não pode
ficar “em cima do muro” e deve responder, também de maneira
clara e objetiva, o que pensa sobre o tema através do uso de conceitos filosóficos
e sociológicos, como por exemplo, moral, ética, honestidade e idoneidade,
dentre outros.
(INFOENEM 06.07.18)
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