segunda-feira, 16 de julho de 2018


A Castração Química
Posted: 12 Jul 2018 06:29 PM PDT
              No último dia 25 de junho, o programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura, entrevistou a pré-candidata à Presidência da República Manuela D´Ávila, filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e tal participação repercutiu muito na mídia como um todo e nas redes sociais, pois muitos telespectadores acharam que Manuela D´Ávila foi interrompida diversas vezes pelos entrevistadores, homens e mulheres, configurando, em muitas ocasiões, o manterrupting.
              Um dos momentos que mais repercutiu nas redes sociais foi quando a pré-candidata foi questionada por Frederico D´Ávila – um dos coordenadores da campanha do também pré-candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) – sobre a punição de estupradores por meio da castração química. Esse momento do programa destacou-se por, primeiro, o entrevistador quase não deixar a entrevistada responder a sua perguntar (e por ele ser o coordenador de campanha de outro pré-candidato) e pelo tema da pergunta em si, a castração química.
              A castração química é um argumento recorrente na fala do pré-candidato Jair Bolsonaro, pois ele criou, em 2013, um projeto de lei na Câmara dos Deputados, em Brasília, que a coloca como punição para estupradores. Em 2016, o projeto estava tramitando na Câmara dos Deputados, mas, até agora, não foi votado; parece ter sido engavetado.
              Manuela D´Ávila, no Roda Viva, ao tentar construir seu raciocínio, tentou argumentar que devemos acabar com a cultura de estupro no Brasil, ensinando e conscientizando os homens de que o estupro não tem justificativa e que não deve ser incentivado como punição a nenhuma mulher e que a vítima nunca é culpada pela violência sexual.
              Afinal, a castração química seria uma alternativa viável para inibir estupradores e, assim, diminuir o número de estupros no Brasil? A coluna da Redação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de hoje é sobre isso, abordando tal questão como um tema pertinente para a prova de redação do Enem de 2018.

              Pessoalmente, como professora de Redação que acompanha a prova de produção textual do Enem há anos, não acredito que esse seja, realmente, uma opção de tema para a banca elaboradora do exame, mas ele pode ser a escolha de outros vestibulares.
              A castração química, segundo o médico urologista Alex Meller, em matéria do portal de notícias UOL, é um método que bloqueia a testosterona (aqui, candidato ao Enem, vale estudar hormônios em Biologia), diminuindo o desejo sexual e até a ereção (também vale, aqui, estudar reprodução humana em Biologia).
              Segundo Meller, a castração química pode ser realizada por meio do uso de dois tipos de drogas. Um deles funciona inibindo a produção de testosterona e o outro tipo de droga engana o corpo do homem ao estimular altos níveis de produção hormonal e, assim, a produção natural é inibida.
              Ainda de acordo com Meller, há drogas de uso oral e injetável e a posologia depende do paciente e, além disso, é um tratamento caro; há injeções, por exemplo, que custam R$ 3.000,00 reais.
              Na mesma matéria também foi entrevistado o médico psiquiatra Danilo Baltieri no que concerne o termo “castração química”. Para ele, trata-se de um termo mais jurídico do que científico, pois é uma diminuição dos impulsos sexuais, não uma privação completa.
              E é nesse sentido que muitas pessoas defendem que a cultura do estupro deve acabar e não apenas colocar a castração química como mais uma forma de punição aos estupradores.
              Segundo o médico urologista Eduardo Ribeiro, professora da Universidade de Brasília (UnB), quando a castração química é feita o impulso sexual diminui, mas não necessariamente o interesse sexual também diminui, pois ela não muda a ideologia violenta do indivíduo que estupra. Isto é: mesmo sem ereção, o estupro e a violência sexual podem acontecer de outras maneiras, como por exemplo, usando pedaços de madeira, ferro, bambu ou cana de açúcar para penetrar a vítima, como já foi noticiado pela mídia.
              Além disso, de acordo com o Código Penal brasileiro, o crime de estupro não se configura apenas pela penetração, mas é sim todo ato sexual (ato libidinoso) não consentido pela vítima, de acordo com a Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009.
              Nesse sentido, podemos citar como exemplo o caso do assassino e estuprador Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, que atuava em São Paulo e que matou e estuprou seis mulheres e que, comprovadamente, não tem ereções. Não foram encontradas amostras de sêmen nas suas vítimas, mas ele as violentou de outras formas.
              O estupro é um crime que busca dominar, humilhar e subjugar a vítima por meio da violência sexual, que pode ser dada sem penetração, ou seja, sem ereção por parte do estuprador que, normalmente, culpa a vítima. Ou seja, trata-se mais de uma questão psiquiátrica do que hormonal, ou não só hormonal.
              Também não podemos esquecer que a maioria dos estupros no Brasil acontece entre pessoas próximas. A grande maioria dos estupradores são pessoas próximas às vítimas, inclusive de suas famílias; a menor parte dos casos é cometida por um estranho, nas ruas, como no caso do Maníaco do Parque.
              Esperamos que o texto de hoje sirva de base para estudos e reflexões por parte dos candidatos ao Enem e de outros vestibulares sobre esse tema tão complexo e polêmico.
              Até a próxima semana!
(INFOENEM, jul 16)

quarta-feira, 11 de julho de 2018


Posted: 05 Jul 2018 08:24 AM PDT
No último dia 1º de julho foi realizado o vestibular de meio de ano da Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo) e hoje analisaremos a prova de redação deste vestibular, que também contou com 53 questões de múltipla escolha, cujo fio condutor foi o conceito de resiliência.
Resiliência, segundo a Física, é, na verdade, um ponto de resiliência de um material que indica a capacidade máxima de absorção e, consequentemente, de acúmulo de energia durante uma situação de deformação sem que este material perca sua capacidade elástica de voltar ao seu formato original sem sofrer uma deformação definitiva ou até mesmo uma ruptura.
Tal definição encontra-se no enunciado da primeira questão do referido vestibular, na seção de perguntas multidisciplinares. Tal enunciado também afirma que, ao longo dos anos, o termo resiliência ganhou novos significados e esta polissemia (pluralidade de significados) é abordada ao longo de todo o vestibular, inclusive na prova de redação.
A prova de redação do vestibular de meio de ano da Fatec de 2018 é composta por três textos fontes e tem como tema a seguinte frase comando: “O jeitinho brasileiro é uma forma de resiliência ou falta de honestidade?“.




Neste contexto, o primeiro texto da coletânea textual aborda os novos significados que o conceito de resiliência ganhou com o passar o tempo e que passaram a ser usados em áreas do conhecimento como a Filosofia e a Psicologia; leia:
Inicialmente, nos anos 1960 e 1970, a resiliência esteve associada à definição dada pela Física. No final dos anos 1980, vemos que o termo já estava se ampliando [….] e passava a se apresentar como a capacidade de ser flexível diante da adversidade. Nas últimas décadas, resiliência vem sendo apresentada como uma capacidade de ser flexível ao atribuir novos significados aos fatos e que pode ser desenvolvida em todo ser humano.
Acesso em: 09.03.2018. Adaptado.
Neste sentido, ser resiliente é ter a capacidade de se regenerar depois de um período difícil na vida e conseguir obter aprendizado na adversidade sem perder a nossa essência, a nossa personalidade. Assim como na Física, desenvolver a resiliência é, após uma fase estressante, voltar a sermos o que éramos, talvez melhores como pessoas, e não nos deixar abater por problemas, obstáculos, decepções etc.
segundo texto da coletânea aborda a definição do “jeitinho brasileiro” da antropóloga Lívia Barbosa:
[…] o jeitinho (brasileiro) é sempre uma forma “especial” de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Portanto, para que uma determinada situação seja considerada jeito, necessita-se de um acontecimento imprevisto e adverso aos objetivos do indivíduo. Para resolvê-la, é necessária uma maneira especial, isto é, eficiente e rápida, para tratar do “problema”.
BARBOSA, L. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. Rio de Janeiro. Editora Campus, 1992.
O “jeitinho brasileiro” não é conhecido no Brasil, mas também em quase todo o mundo; somos famosos por conta dele, como se isto fosse uma marca do povo brasileiro, sem exceções.
terceiro e último texto da coletânea cita alguns exemplos do que seria, na prática, o “jeitinho brasileiro”, e debate se seria apenas hábitos irrelevantes ou hábitos corruptos que devem ser combatidos:
Não declarar Imposto de Renda, falsificar carteirinha de estudante ou, simplesmente, furar uma fila. A maior parte da população não considera essas atitudes erradas e as encara como parte do cotidiano. [….] Mas esses atos, conhecidos como o famoso “jeitinho brasileiro”, podem ser mais graves do que parecem e configuram, até mesmo, ato de corrupção. O coordenador em Goiás da campanha do Ministério Público “O que você tem a ver com a corrupção” observa que essas atitudes já foram banalizadas e enraizadas culturalmente. Por isso, a campanha visa mostrar à população que esses pequenos atos, tidos como normais, também são desvios de conduta e devem ser repensados. “O Brasil ainda não sedimentou os princípios básicos da honestidade e o conceito de ética varia. É preciso conscientizar as pessoas de que tudo começa com os pequenos atos e uma coisa leva a outra”, acredita.
Acesso em: 10.04.2018. Adaptado
Como a frase comando do tema é uma pergunta, baseado nesta coletânea textual, o candidato deve responder se o “jeitinho brasileiro” é uma forma de resiliência ou falta de honestidade por meio da produção de um texto narrativo ou dissertativo-argumentativo.
Há quem diga que já pagamos muitos impostos no Brasil, por isso não declarar Imposto de Renda ou declarar, mas tentando burlá-lo não seria errado, pois os políticos nos roubam há anos. Também é comum o discurso de que os eventos culturais no Brasil (cinema, teatro, exposição, shows etc.) são muito caros e que as empresas ganham muito com isso e por isso é constante a falsificação de carteirinhas de estudante.
Neste sentido, para estas pessoas, o “jeitinho brasileiro” seria sim uma forma de resiliência à verdadeira corrupção, dos altos escalões. Já para outras pessoas, tais exemplos não deixam de ser corrupção e, assim, são exemplos práticos de falta de honestidade.
Nesta prova de redação, como há uma pergunta clara, ela deve ser respondida. Desta maneira, o candidato não pode ficar “em cima do muro” e deve responder, também de maneira clara e objetiva, o que pensa sobre o tema através do uso de conceitos filosóficos e sociológicos, como por exemplo, moral, ética, honestidade e idoneidade, dentre outros.
(INFOENEM 06.07.18)